Paulo Chachine, reafirmou a velha negação oficial: “Desconheço completamente a existência de esquadrões da morte no nosso território”

 

Com frieza e sem oferecer provas, classificou como “mera especulação” as denúncias recorrentes sobre grupos paramilitares que estariam por trás de assassinatos selectivos de opositores, activistas e jornalistas. No entanto, a realidade em Moçambique insiste em desmenti-lo.

Desde as últimas eleições, o país tem assistido a um preocupante aumento de sequestros, ataques e mortes em circunstâncias suspeitas. O padrão é evidente: vítimas ligadas à oposição política ou à denúncia pública de irregularidades, silenciadas em crimes que raramente recebem investigação adequada. As autoridades calam-se. A Justiça assiste. A impunidade grita.

Exemplos não faltam. Joel Amaral sobreviveu a uma tentativa de assassinato, mas seu caso permanece engavetado, mergulhado em silêncio institucional. Nenhuma acusação, nenhuma explicação, nenhum progresso. Quando pressionado pela imprensa, o ministro do Interior limitou-se a recitar a retórica genérica: “Todos os crimes são apurados com o mesmo rigor”. Uma resposta descolada da realidade de um sistema selectivamente cego diante de crimes políticos.

A narrativa do governo contrasta violentamente com os factos. O caso de Anastácio Matável — activista brutalmente assassinado por agentes da Polícia de Intervenção Rápida em 2018 — é frequentemente usado como exemplo de justiça feita. Mas até essa condenação escancara a estratégia de desresponsabilização do Estado. O veredicto judicial alegou que os polícias actuaram por “conta e risco próprio”, livrando o sistema de qualquer culpa institucional. Conveniente.

Nesse crime macabro, de 2018, apesar de seis agentes terem sido condenados, outros foram absolvidos, um está “foragido” e dois morreram durante a fuga — um episódio tão carregado de simbolismo quanto de impunidade. E mesmo diante desse crime grotesco e claramente orquestrado, o governo continua a fingir normalidade.

Especialistas em segurança pública alertam que a recusa sistemática em reconhecer a gravidade e a possível estruturação desses esquadrões dentro do aparelho de Estado só reforça o ambiente de medo e permissividade. Enquanto isso, figuras da oposição desaparecem, jornalistas são atacados e activistas são calados — sem respostas, sem culpados, sem justiça.


Num país onde o silêncio vale mais do que a verdade e a impunidade se tornam política pública, resta à sociedade civil e à imprensa independente o papel de escavar a verdade, apesar da perseguição. A cada denúncia ignorada, o Estado moçambicano vai se distanciando da democracia e se aproximando de um perigoso autoritarismo mascarado.


Este é o retrato de um país onde negar virou estratégia e omitir virou regra. E a pergunta que resta é: até quando?

Postar um comentário

0 Comentários