Padre Andrea Facchetti denuncia esquecimento governativo do povo e diz que “não sabemos distinguir entre o bem e o mal, senhor Presidente”

 

No comício, o Padre Andrea Facchetti pediu que os governantes moçambicanos olhem mais pelo povo sofredor de Mutarara e arredores.

De acordo com Padre Andrea Facchetti, o esquecimento governativo que se assiste naquela região rica em recursos naturais que deveriam servir para melhorar a vida da população demonstra que já não se sabe distinguir entre o bem e o mal. Na oração amplamente aplaudida pela população pela forte mensagem, Padre Andrea deixou fortes recados ao Presidente da República, Daniel Chapo, que se encontrava de visita à província de Tete, sobre o papel de um governante que é de servir o povo.

Leia na íntegra a oração do Padre Andrea Facchetti:

No Primeiro Livro do Reis (1 Reis 3,5-13), ao jovem rei Salomão, aparece em sonho o Senhor Deus que lhe pergunta o que ele quer para governar bem o seu País. O jovem rei, que está no princípio do seu Reinado, pede simplesmente um coração sábio para discernir entre o bem e o mal. A resposta agrada ao Senhor Deus porque não pediu uma longa vida, nem riqueza, nem a morte dos inimigos, mas, sim, um coração sábio para discernir entre o bem e o mal.


Peço a Deus que derrame sobre si, senhor Presidente, esta bênção: a sabedoria para discernir entre o bem e o mal. Peço isso pensando à população deste Distrito de Mutarara.


Aqui, a poucas centenas de metros, a ponte Dona Ana une as duas margens do Zambeze. Cada dia centenas de pessoas passam de pé, de bicicleta ou de mota, esquivando os buracos e prestando atenção para não cair nas águas do rio. No dia 18 de Fevereiro uma criança de três anos morreu afogada caindo num desses buracos. Paradoxalmente (e paralelamente) aí lado passa o comboio do carvão, recurso que Deus deu à população desta Província, mas que, após anos, parece que não está trazendo benefício. Não sabemos distinguir entre o bem e o mal, senhor Presidente.

A população deste Distrito sofreu uma seca e uma fome terríveis nos últimos dois anos. A partir do mês de Novembro do ano passado o PMA tentou aliviar este sofrimento. Mas alguns não foram honestos. Nós, como Igreja Católica, somos testemunhas de como pessoas que têm boas condições de vida e estão ligadas ao partido no poder receberam ajudas, enquanto os verdadeiros pobres (cegos, deficientes, viúvas e órfãos) foram excluídos. Não sabemos distinguir entre o bem e o mal, senhor Presidente.

As montanhas deste Distrito foram abençoadas por Deus com ouro e pedras preciosas. A exploração destes recursos poderia beneficiar a população local, assim como prevê a Lei de Minas. Mas infelizmente não é assim. Estas minas são ilegais: só algumas pessoas estão enriquecendo em prejuízo da maioria. Não sabemos distinguir entre o bem e o mal, senhor Presidente.

Por isso, senhor Presidente, peço a Deus, para si, como para todos os governantes deste País, o Dom de terem um coração sábio que saiba discernir entre o bem e o mal. Para procurar uma maneira clara para o bem comum, que não é o bem só para poucos privilegiados, mas o bem de todos e para todos. Para que, de verdade, o nosso amado Moçambique prospere na justiça, na liberdade, na honestidade e na paz. Deus abençoe Moçambique. Ámen.

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